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A ILP COMO FERRAMENTA POTENCIALIZADORA DE RESULTADOS DA CRIA

A cria como ocupação marginal

Apesar de ser etapa fundamental na pecuária, a atividade da cria foi conduzida tradicionalmente como uma exploração marginal e de baixa rentabilidade, demandando historicamente menos recursos para sua execução. Dentre esses recursos podemos citar:

- Recursos logísticos e estruturais: Regiões afastadas, de difícil acesso, em função da sua menor demanda por internalização de insumos.

- Recursos edafoclimáticos: Áreas de menor potencial agronômico, com chuvas escassas, solos rasos, topografia irregular, dentre outras características que dificultam tanto a agricultura quanto a intensificação da pecuária.

- Recursos financeiros: Terras mais baratas, menor custeio anual, menor necessidade de compra de bovinos de reposição, entre outros fatores.

Logicamente com o predomínio dessas condições extensivas de exploração, a cria tornou-se uma atividade de menor rentabilidade dentro da pecuária. Porém, atualmente já existem pacotes tecnológicos que permitem fazer da cria uma atividade que compete em termos de rentabilidade com as demais.

Nesse sentido, em antigas regiões de cria, mas hoje já servidas por melhor logística, a integração lavoura-pecuária (ILP) é uma ferramenta de alto impacto na produtividade e rentabilidade da cria, alavancando bruscamente sua competitividade. Nesse sistema de integração, se lança mão da produção agrícola em áreas de pastagens e vice-versa, de forma a implantar um esquema de rotação ou sucessão de culturas, promovendo benefícios tanto à agricultura quanto à pecuária. Na pastagem após soja ou outra lavoura de safra, a exploração do “boi safrinha” é uma alternativa de menor risco agrícola que a produção de uma cultura de grãos no período, além de produzir palhada de qualidade para o plantio direto. Já na pecuária, seu benefício direto é o aumento da oferta de forragem de qualidade no período seco, possibilitando um incremento significativo na produção de arrôbas da fazenda.

Ao contrário da recria-engorda, a cria é incapaz de diminuir de maneira significativa a demanda por forragem no período seco, pois necessita manter o plantel de matrizes e reprodutores durante o ano todo. Dessa forma, a ILP é uma excelente ferramenta para o criador aumentar sua produtividade, pois lhe-permite atravessar a seca com maior oferta de forragem.
Instituto inttegra

O Instituto Inttegra realiza anualmente o levantamento de dados técnicos e econômicos de centenas de propriedades espalhadas pelo Brasil e América do Sul. Esses dados são avaliados por safra agrícola, ou seja, de 01/07 a 30/06 do ano seguinte e são usados como base para a produção dos benchmarkings da empresa.

De acordo com o Instituto nas últimas três safras, 19/20, 20/21 e 21/22, fazendas de cria que dispõe de agricultura no seu sistema de produção apresentam melhorias em alguns indicadores chaves da atividade, os quais estão referidos a seguir.

Interpretando os gráficos
Os gráficos abaixo possuem duas linhas representando grupos de fazendas com e sem agricultura no seu sistema de produção. Cada uma dessas linhas apresenta 3 valores:

- 25% piores: Valor que retrata o rendimento máximo das 25% piores fazendas com e sem agricultura.

- Média: Valor que indica o rendimento médio das fazendas com e sem agricultura.

- 25% melhores: Valor que representa o rendimento mínimo das 25% melhores fazendas com e sem agricultura.

1. Quilos de bezerros desmamados por hectare

1.1 O que é?
Essa métrica é um excelente indicativo da capacidade da fazenda de produzir o seu ativo comercial, no caso da cria, bezerros. Ou seja, propriedades que desmamam maior quantidade de bezerros e que sejam mais pesados por unidade de área, são mais produtivas e diluem melhor os seus custos de produção, o que provavelmente refletirá positivamente na sua saúde financeira.

1.2 Como se calcula?
O cálculo deste indicador é feito pela soma do peso vivo de todos os indivíduos desmamados na fazenda na safra e dividindo-o pela área ocupada pela cria durante esse período.
1.3 Média das últimas três safras
Nesse indicador é notável que fazendas com agricultura tem uma maior produção de quilos de bezerros/ha. Quando se compara os grupos com versus sem agricultura, há acréscimos de 65,5%, 60,5% e 37,8% para os 25% piores, média e 25% melhores, respectivamente.

2.Taxa de desmame

2.1 O que é?
É um indicador do desempenho reprodutivo das matrizes do rebanho, sendo um reflexo direto da fertilidade dessas, e decorrente também das perdas pré-parto e da mortalidade de bezerros.

2.2 Como se calcula?
O cálculo é o quociente entre o número total de bezerros desmamados e a quantidade de matrizes expostas à reprodução, expresso em porcentagem:
2.3 Média das últimas três safras
Já nesse gráfico, comparando fazendas COM versus SEM agricultura, se observa que há uma diferença expressiva na média, seguido pelas 25% melhores, sendo que entre as 25% piores não aparecem diferenças. Isso pode indicar que o fato de as médias e as 25%  melhores fazendas já possuírem um plantel de matrizes mais férteis e com melhor controle das perdas pré-parto e da mortalidade de bezerros, isso lhes permite responder positivamente à melhor condição nutricional proporcionada pela ILP na seca.

3. GMD a pasto

3.1 O que é?
Esse indicador, expresso em gramas/cab.dia, representa o ganho médio de peso de todas as categorias bovinas da fazenda a pasto ao longo de um ano.

3.2 Como se calcula?
É calculado pela seguinte fórmula:
Em que:

Ef = Estoque no final da safra

Ei = Estoque no início da safra

C = Total de compras durante a safra

V = Total de vendas durante a safra

3.3 Média das últimas três safras
Nesse indicador, a presença da integração com a agricultura teve maior reflexo no GMD a pasto para o grupo das 25% piores fazendas e para o grupo das fazendas da média, onde promoveu incrementos de 48 g/cab.dia e de 34 g/cab.dia, respectivamente.

Cabe destacar também que, nas fazendas sem integração com agricultura, há um significativo diferencial de ganho, de 100 g/cab.dia, entre os grupos extremos, o que pode ser reflexo um melhor plano nutricional para o grupo das 25% melhores fazendas.

4.Taxa de lotação global (UA/ha)

4.1. O que é?
A taxa de lotação é um indicador da carga animal sobre a área destinada à pecuária, durante toda a safra. A carga animal é expressa em unidade animal (UA) por hectare, sendo que, 1 UA = 450 kg de peso vivo. Fazendas com maiores taxas de lotação indicam um uso mais intensivo das pastagens, exigindo, consequentemente, que sejam mais produtivas.

4.2. Como se calcula?
Sendo que:

Rm = Rebanho médio na safra

Pv médio = Peso vivo médio dos bovinos na safra

Área = Área média destinada à pecuária na safra

4.3. Média das últimas três safras
Assim como no indicador de peso de bezerro desmamado por hectare, a lotação global apresenta diferenças expressivas nos três grupos analisados, sendo que as fazendas COM agricultura apresentam melhor desempenho, demonstrando um aumento de lotação que alcança 0,4 UA/há, nos grupos das 25% piores fazendas e nas fazendas da média, e um aumento de 0,3 UA/ha no grupo das 25% melhores. Esses valores comprovam os benefícios em razão da maior oferta de forragem que a ILP traz para a pecuária.

5. Resultado da operação pecuária

5.1 O que é?
Esse indicador remete à capacidade que a fazenda teve em gerar caixa ao longo da safra com a operação pecuária, excluindo o resultado da agricultura.

5.2 Como se calcula?
Como é um indicativo direto da geração de caixa, o Instituto Inttegra usa uma metodologia que não considera taxas de depreciação neste cálculo e considera integralmente os investimentos realizados no ano como parte do desembolso. Além disso, são levadas em conta as variações dose estoques de bovinos e de insumos entre o início e o final da safra.

Cálculo:
Em que:

F = Faturamento

D = Desembolso

Área = Área média destinada a pecuária na safra

5.3 Média das últimas três safras
Repetindo o comportamento dos últimos dois indicadores, as fazendas com agricultura foram expressivamente melhores que as fazendas sem agricultura em todos os grupos, implicando em aumentos na geração de caixa de aproximadamente R$ 240,00/ha, R$ 265,00/ha e R$ 509,80/ha nas 25% piores fazendas, nas fazendas da média e nas 25% melhores fazendas, respectivamente. Ressalta-se ainda, que nas 25% piores, sem agricultura, o resultado da operação foi negativo.

Conclusões

A cria historicamente foi submetida a condições exploratórias que limitavam a sua produtividade e rentabilidade, o que certamente refletiu nos dados apresentados, especialmente nas piores 25% sem agricultura. Nessas propriedades, há um desempenho reprodutivo e produtivo pouco capaz de sustentar uma geração de caixa saudável, levando, inclusive, a ocorrências de prejuízo econômico nas últimas três safras. A presença de agricultura nas fazendas de cria muda os patamares da atividade, como fica demonstrado pelo fato de que as 25%  piores fazendas de cria com agricultura foram melhores que as fazendas da média sem agricultura, em dois dos cinco parâmetros apresentados.

Porém, vale destacar que há criadores que, mesmo sem agricultura, possuem eficiência produtiva e competem de modo similar aos melhores criadores com agricultura, nos apontando que a cria responde em termos produtivos e econômicos a outros pacotes tecnológicos além da ILP.
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