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Acidose subaguda

O QUE É ACIDOSE?

A acidose ruminal nada mais é que uma alteração brusca no pH devido ao acúmulo de ácidos oriundos da fermentação de carboidratos. Nessa situação, a ingestão excessiva de carboidratos facilmente fermentáveis e baixa de fibra são os principais causadores do distúrbio, aumentando a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), além da capacidade de absorção do epitélio ruminal.
QUAIS OS TIPOS?

A acidose pode ser classificada de duas formas, a depender da concentração de ácido lático e da intensidade e duração da queda do pH. São elas:

1. Acidose subaguda: o pH abaixa a valores entre 5,0 e 5,8 por um curto período de tempo e há um pequeno acúmulo de ácido lático no rúmen, sendo predominante o acúmulo de AGCC (SANTOS, 2006). Nessa situação, os mecanismos de tamponamento do pH conseguem retorná-lo a níveis mais adequados.

2. Acidose aguda: nesse cenário há predomínio de ácido lático no rúmen e o pH cai para valores inferiores a 5,0 por um longo período de tempo, podendo acarretar em problemas metabólicos (SANTOS, 2006).

Apesar de ser menos letal, a acidose subaguda ocorre com maior frequência e ocasiona grandes prejuízos aos sistemas de produção, em especial, aqueles que fornecem dietas mais adensadas energeticamente.

PREJUÍZOS DA ÁCIDOSE SUBAGUDA E AGUDA

A ocorrência frequente de acidose subaguda pode acarretar em problemas de casco (laminite), oscilação no consumo de matéria seca e diarreia, ou seja, prejudica o desempenho animal.

Uma flutuação de 10% da ingestão de matéria seca pode prejudicar o ganho de peso animal em 6% e prejudicar a conversão alimentar em 7% em comparação à bovinos com uma ingestão regular de matéria seca (GALYEAN et al., 1992). Com esses dados fica evidente que numa operação de terminação intensiva, como em confinamento, problemas dessa ordem prejudicam a rentabilidade da operação.
SINTOMAS CLÍNICOS

Como já é esperado, a acidose pode ser diagnosticada por uma avaliação de pH do conteúdo ruminal, porém os mecanismos de coleta muitas vezes são inviáveis a nível de campo, restringindo as ações de diagnóstico a avaliações clínicas/comportamentais e do histórico do animal. Além dos sintomas já mencionados que estão associados à sua forma mais branda, a acidose na sua forma mais aguda traz algumas manifestações clínicas características como, desidratação; aumento da frequência cardiorrespiratória; quadro de timpanismo com distensão abdominal do lado esquerdo e presença de material espumoso nas narinas (SANTOS, 2016).

Contudo, esses sintomas podem ser confundidos com outros distúrbios ou patologias, assim o diagnóstico deve levar em conta outros fatores importantes como o histórico e o manejo alimentar dos animais.

Após o abate do bovino, a ocorrência de acidose pode ser evidenciada por lesões na parede ruminal (ruminite) e abscessos hepáticos. As lesões nesses órgãos são causadas pela colonização do epitélio ruminal pelas bactérias Fusobacterium necrophorum e Actinomyces pyogenes que encontram num rúmen acidótico condições favoráveis ao seu desenvolvimento (NAGARAJA E CHENGAPPA, 1998).

Abscessos hepáticos representam um grande prejuízo financeiro ao produtor e ao frigorífico, pois além do fígado representar até 2% do peso da carcaça, quando ele é lesionado há uma redução no consumo da dieta, do ganho de peso e na conversão alimentar (NAGARAJA E CHENGAPPA, 1998).

ADAPTAÇÃO

São reconhecidos dois grandes grupos de bactérias ruminais: as celulolíticas, que utilizam preferencialmente a celulose e hemicelulose como substrato para crescimento e se desenvolvem melhor em pH próximo a 6,5; e o grupo das amilolíticas, que degradam amido e outros açúcares com um pH mais baixo.

O animal que sai de uma dieta altamente volumosa e vai para uma altamente concentrada está com o rúmen repleto de bactérias celulolíticas e, portanto, ainda não possui uma composição microbiana adequada à digestão de grandes quantidades de concentrados, o que requer um plano gradual de inclusão na dieta.

O epitélio ruminal é o tecido responsável pela absorção dos AGCC do rúmen direcionando-os ao sistema circulatório e posteriormente, ao fígado para síntese de glicose. Em situações que a produção desses ácidos aumenta devido a modificações na dieta é necessário que a superfície absortiva do epitélio ruminal aumente da mesma forma, o que permitirá maior equilíbrio entre síntese e absorção de ácidos. Para que isso ocorra, as alterações nas dietas devem ser feitas de maneira gradual, dando o tempo necessário para o desenvolvimento da superfície absortiva.

Portanto, situações em que a proporção volumoso: concentrado da dieta se altera de maneira significativa, como no caso de animais que entram em confinamento ou TIP (terminação intensiva a pasto), a adaptação é uma etapa fundamental para evitar a ocorrência de acidose.

Vale lembrar que o protocolo de adaptação a ser adotado irá variar de acordo com o grau de alteração da proporção volumoso: concentrado da dieta. Assim mudanças mais bruscas exigem maior tempo e mais cuidados na adaptação em comparação à mudanças mais amenas.

DIETA - ADITIVOS

Os aditivos são entidades não nutricionais, mas que promovem algum benefício ao metabolismo animal. Nesse sentido, existem opções bem consolidadas neste mercado para atenuar os riscos da acidose ruminal.

O grupo dos ionóforos, em especial a monensina, tem efeito inibitório no desenvolvimento da Streptococcus bovis, principal bactéria produtora de ácido lático no rúmen. O ácido lático é um ácido forte que promove maior queda do pH do que os demais AGCC (ácido acético, butírico e propiônico), portanto, é o principal responsável pelo abaixamento do pH.

Outro grupo de aditivo usado há muitos anos na prevenção da acidose são os tamponantes representados principalmente pelo bicarbonato de sódio. O bicarbonato é uma base fraca capas de ceder íons OH- ao meio ruminal, que reage com o H+ liberado pelos ácidos graxos de cadeia curta, formando H2O (água).

Vale lembrar que aditivos por conta própria não resolvem o problema da acidose. O balanceamento da dieta e boas práticas de manejo ainda continuam sendo primordiais para evitar o distúrbio.

DIETA - FORMULAÇÃO E MANEJO

Conforme já mencionado ao longo do texto, a acidificação do meio ruminal geralmente provém do uso de dietas com alta inclusão de grãos energéticos e baixa inclusão de fibras.

Contudo, esse tipo de dieta é cada vez mais adotada nos confinamentos brasileiros devido aos seus benefícios técnicos e operacionais em comparação a dietas mais volumosas. Ingredientes concentrados permitem adensamento energético (energia/massa) reduzindo os custos logísticos e operacionais. Além disso são recomendadas especialmente para encurtamento do ciclo de produção, melhora do acabamento e do rendimento de carcaça.

A adoção desse tipo de dietas deve ser acompanhada de um conhecimento pleno dos seus ingredientes, que envolve suas características físico-químicas e sua capacidade de rebaixamento do pH ruminal. Além disso, devem atender o mínimo de fibras necessárias para manutenção de um ambiente ruminal saudável.

O manejo alimentar é outro ponto de atenção para dietas mais energéticas. O processamento, homogeneização dos ingredientes, a disponibilidade de cocho e a frequência de fornecimento do trato são fatores primordiais para evitar a ocorrência de acidose. Dietas mal homogeinizadas associadas a uma metragem de cocho por cabeça inadequada aumentam a seleção animal o que favorece o consumo exacerbado de concentrados por parte do lote. Longos períodos sem fornecimento de alimento pode propiciar um pico de consumo capaz de abaixar substancialmente o pH ruminal.

O acompanhamento diário do consumo do lote também é uma prática importantes para evitar o distúrbio metabólico, tendo em vista que, a oscilação no consumo de matéria seca é um dos sinais da acidose.

REFERÊNCIAS

GALYEAN, M. L. et al. Effects of varying the pattern of feed consumption on performance by programmed-fed steers. Clayton Livestock Reserch Progress Report. n. 78. 1992.

NAGARAJA, T. G. & CHENGAPPA, M. M. 1998. Liver abscesses in feedlot cattle: A review. Journal of Animal Science, 76, 287-298.

NOCEK, J. E. Bovine acidosis: implications in laminitis. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 80, n. 5, p. 1005-1028, 1997.

OWENS, F. N. Clinical and subclinical acidosis. In: Simpósio de Nutrição de Ruminantes – Saúde do Rúmen, 3., 2011, Botucatu. Anais eletrônicos...[CDROM], Botucatu: UNESP, 2011.

PLAIZIER, J. C.; KRAUSE, D. O.; GOZHO, G. N.; McBRIDE, B. W. Subacute ruminal acidosis in dairy cows: the physiological causes, incidence and consequences. The Veterinary Journal, London, v. 176, n. 1, p. 21-31, 2009.

SANTOS, J. E. P. Distúrbios metabólicos. In: BERCHIELLI, T. T. Nutrição de ruminantes. Jaboticabal: Fapesp, 2006. Cap. 15. p. 461-471.
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