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Calagem e gessagem

INTRODUÇÃO

A maior parte das áreas cultiváveis do Brasil se encontram na região tropical. Como consequência, no geral, nossos solos são altamente intemperizados, pobres em nutrientes e de carater geralmente ácido, com presença de alumínio (Al) em altas concentrações. Esses fatores, se tornam limitantes à produção vegetal e requerem intervenções para buscarmos melhores resultados.

A acidez ocorre devido a presença de íons de hidrogênio livre no solo. Para aumentar o pH, a disponibilidade de nutrientes e a produtividade é necessário a neutralização de H+ por ânions OH- (hidroxila). As altas concentrações de Al+, resultantes de um longo processo de intemperismo de rochas, dificultam o enraizamento em profundidade. Grande parte das plantas tem seu sistema radicular comprometido em situações de saturação por alumínio superiores a 10%. Os problemas causados pelo intemperismo não afetam exclusivamente a camada superficial (de 0 a 20cm), alcançam também as camadas subsuperficiais mais profundas.

Em torno de 70% das áreas agricultáveis do Cerrado apresentam saturação por alumínio superior a 10% na camada subsuperficial. E 86% apresentam teor de cálcio (Ca) inferior a 0,4 cmolc / dm³, o que é considerado muito baixo (DE SOUZA; LOBATO; REIN, 2005). Além de um vasto quadro de deficiência de macro e micronutrientes, como, magnésio (Mg), fósforo (P), enxofre (S), boro (B) e zinco (Zn).

CALAGEM

A calagem é uma prática utilizada para correção da acidez superficial, na camada arável do solo. Buscando valores de pH (em água) entre 6,0 e 6,5, faixa adequada para maioria das culturas (VELOSO, 2007). Nessas condições ocorre disponibilidade adequada da maioria dos nutrientes essenciais, à exceção apenas de micro catiônicos (cobre, ferro, manganês e zinco). Outros objetivos da calagem são a redução da saturação por alumínio no solo e fornecimento dos nutrientes Ca e Mg.

Existem diversos produtos que atuam como corretivos agrícolas, presentes na forma de carbonatos, óxidos, hidróxidos, ou silicatos de cálcio e de magnésio. No Brasil o mais utilizado é o calcário, formado majoritariamente por carbonato de cálcio (CaCO3) e carbonatos de magnésio (MgCO3). Em contato com a água ocorre a dissociação em Ca2+, Mg2+ e Carbonatos 2(CO3).
O carbonato em contato novamente com H2O forma bicarbonato e em seguida ácido carbônico, liberando 2 moléculas de OH- (hidroxila) nos processos. Estas moléculas, ao entrarem em contato com o H+ (hidrogênio) em solução no solo, a neutraliza formando água. 
Outro corretivo de solo importante é a Cal virgem agrícola, formado por óxidos de cálcio (CaO) e magnésio (MgO). 
Independentemente do corretivo utilizado, seus efeitos são limitados apenas na camada onde o produto foi incorporado, sendo que raramente a incorporação ocorre em profundidade maior que 40 cm.

GESSAGEM

A gessagem visa condicionamento de subsuperfície, fornecimento de S e Ca, além de inúmeras vantagens que serão descritas a seguir. Quando posicionada de forma correta e associada com demais manejos, se torna uma excelente ferramenta para a atividade agrícola. 

O gesso agrícola, ou sulfato de cálcio (CaSO4.2H2O), é um dos principais condicionadores de solo. Ao sofrer dissociação no solo, ele libera cálcio e sulfato, que iram servir de fonte de nutriente para as plantas. O sulfato pode também se complexar com cátions da superfície principalmente Mg e Ca e sofrer lixiviação para a subsuperfície melhorando os teores de nutrientes.
O sulfato forma complexos também com o alumínio, formando sulfato de alumínio (AlSO4), que apresenta baixa atividade. Essa é uma das características mais importantes da gessagem pois, como já dito antes, a toxidez por alumínio é um grande entrave para as atividades agrícolas. 
Com a redução do teor de alumínio, o sistema radicular consegue explorar camadas mais profundas, se espalhando de maneira mais homogênea pelo perfil do solo. Esse fato é essencial para uma maior resistência à verânicos, pois, um maior volume de solo explorado, implica em maior capacidade de absorção de água e nutrientes.
O sulfato, embora reaja com hidrogênio, forma um ácido forte (H2SO4) que é facilmente dissociado. Portanto não altera o pH do solo. 

A gessagem apresenta outras vantagens como redução da salinidade, redução do teor de Na em solos sódicos e do excesso de K em condições de teores muito elevados. A floculação de argila é outro papel realizado no processo que traz melhorias as características do solo. 

APLICAÇÃO 

 Existem diversas formas para calcular a necessidade de gesso (NG) e calcário (NC) do solo, que irão variar de acordo com a finalidade do uso, características do solo e do material utilizado. Algumas das principais fórmulas serão apresentadas a seguir.
A disponibilidade de Ca e Mg requerida pela cultura (X), varia de 1,0 a 3,5 (CAMARGOS, 2005). Sendo que para a maior parte das culturas, como por exemplo milho e gramíneas tropicais se adota o valor de 2,0 (MARTINS et al., 2021) já para eucalipto e café os valores são 1 e 3 respectivamente (SILVA, 2021).
A escolha entre um método ou outro deve ser pautada em critérios agronômicos de acordo com o tipo de solo, sua análise química e os objetivos de correção.

ORDEM DE APLICAÇÃO

Por muito tempo, não era recomendado a aplicação de maneira simultânea de ambos os produtos, devido a grande diferença de solubilidade do CaSO4.2(H2O) em relação ao MgCO3 e CaCO3. Dessa forma, esperava-se que, caso o gesso (mais solúvel) fosse aplicado de modo anterior ou simultâneo ao calcário (menos solúvel), haveria prejuízos a reação deste último no solo, correndo riscos de não se ter o efeito esperado de aumento do pH do solo.

No entanto, em 2017, a Embrapa Agropecuária Oeste, apresentou resultados de pesquisas  que comparavam o valor de pH do solo, em função da aplicação de calcário associado ou não ao gesso em diferentes dosagens e solos. Os resultados apresentados foram convincentes de que, a aplicação simultânea de gesso e calcário não traz prejuízos agronômicos à reação do corretivo, sendo que o valor de pH atingido em ambos os tratamentos, foi muito similar durante o período de avaliação.
CONCLUSÕES 

Grande parte dos solos nacionais são inférteis e apresentam desafios para o estabelecimento de culturas agrícolas em decorrência de seus processos naturais de formação. Altas concentrações de Al e acidez são um dos problemas mais encontrados nesse cenário.

A calagem atua na camada arável do solo, fornece cálcio e magnésio, reduz a saturação por alumínio e eleva o pH. Isso porque durante a dissociação do corretivo agrícola são liberados: Mg2+, Ca2+ e OH-. A hidroxila ao entrar em contato com H+ forma água e com Al3+ forma hidróxido de alumínio (Al(OH)3), que apresenta baixa atividade. 

A gessagem age em subsuperfície, fornece cálcio e enxofre, movimenta cátions, principalmente Mg2+, Ca2+ para camadas inferiores do solo e reduz a saturação por alumínio. No entanto, a utilização exclusiva de condicionadores de solo não resulta em mudanças no pH.

Existem estudos que comprovam a não interferência do gesso na reação do calcário quando aplicados em conjuntos, o que é uma grande vantagem operacional. Porém a tomada de decisão a respeito da época de aplicação dos insumos, deve ser pautada em critérios agronômicos e acompanhada de perto por um Engenheiro Agrônomo.

Vale ressaltar que tais ferramentas podem e devem ser utilizadas sempre que necessário, de acordo com as indicações técnicas adequadas.  E que não substituem a aplicação básica dos nutrientes nas quantidades necessárias pela cultura cultivada.  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

CAIRES, Eduardo Fávero. Construção de Perfil do Solo. Goiânia: Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2016. Color.

CAMARGOS, Sânia Lúcia. Acidez e calagem. 2005. 26 f. Monografia (Especialização) - Curso de Medicina Veterinária, Solos e Engenhaira Rural, Ufmg, Cuiabá, 2005. Disponível em: https://www.ufjf.br/baccan/files/2019/04/Apostila_Capitulo_2_Acidez_Calagem.pdf. Acesso em: 02 out. 2021

De sousa, d. M. G.; lobato, e.; rein, t. A. Uso do gesso agrícola nos solos do cerrado. Embrapa cerrados-circular técnica (infoteca-e), 2005.

De sousa, djalma m. Gomes et al. Uso de gesso, calcário e adubos para pastagens no cerrado. Embrapa cerrados-circular técnica (infoteca-e), 2001.

Kurihara, c. H. Et al. Influência de gesso agrícola na reatividade de diferentes frações granulométricas de calcário no solo. Embrapa agropecuária oeste-boletim de pesquisa e desenvolvimento (INFOTECA-E), 2017.

MARTINS, Carlos Eugênio et al. Calagem. Brasília: Embrapa, 2021. Disponível em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia8/AG01/arvore/AG01_363_217200392416.html. Acesso em: 02 out. 2021.

Oliveira, sa de; sousa, dmg de; lobato, e. Cerrado: correção do solo e adubação. 2004.

Pavinato, paulo sergio. Condicionadores de solo -uso eficiente do gesso agrícola. Piracicaba: esalq, 2021. Color.

Pavinato, paulo sergio. Corretivos do solo -uso eficiente e efeitos na produçãoprof. Piracicaba: esalq, 2021. Color.

Primavesi, ana cândida; primavesi, odo. Características de corretivos agrícolas. Embrapa pecuária sudeste, 2004.

SILVA, José Ribamar. MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DA NECESSIDADE DE CALCÁRIO (NC). Rio Branco: Ufac, 2021. Color. Disponível em: http://www.ufac.br/site/ufac/prograd/educacao-tutorial/grupos-pet/pet-agronomia-1/apoio-didatico/quimica-e-ferlitidade-do-solo/unidade-8b-metodos-de-determinacao-da-necessidade-de-calagem/view. Acesso em: 02 out. 2021.

SILVA, Juscimar da; GUEDES, Ítalo Moraes Rocha; LIMA, Carlos Eduardo Pacheco de. Calagem. Brasília: Embrapa, 2021.

Veloso, carlos alberto costa et al. Correção da acidez do solo. Cravo, ms; viégas, ijm; brasil, ec recomendações de adubação e calagem para o estado do pará. Belém: embrapa amazônia oriental, p. 93-103, 2007.

Vitti, godofredo céssar. O livro do gesso. Piracicaba: gape, 2020.
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