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O que saber antes de usar ureia para bovinos?

É FONTE DE QUE?

A ureia é uma fonte proteica que apresenta em sua composição 281% de equivalente proteico na forma de nitrogênio não proteico (NNP), uma parte da proteína bruta (PB) dos alimentos. Esta fração é representada marjoritariamente por amidas, aminas, ácido nucleicos, peptídeos e amônia principalmente. Além da ureia, as forragens, especialmente as conservadas na forma de silagem, contribuem significativamente no fornecimento de NNP no rúmen,  possuindo em torno de 30 a 65% da PB neste formato (MEDEIROS E MARINO, 2015).
A capacidade dos microrganismos ruminais de incorporarem o NNP e converterem em proteína microbiana faz da ureia uma excelente opção para balançeamento proteico de dietas, com um custo unitário de PB inferior as demais fontes.

A proteína microbiana, produzida pelos microrganismos, possui excelente qualidade em termos de composição de aminoácidos, ou seja, tem alto valor biológico e são a principal fonte de proteína metabolizável no organismo animal, equivalendo de 60 a 90% da proteína que chega ao intestino delgado (MEDEIROS E MARINO, 2O15).

Além do incremento na síntese de proteína microbiana, a ureia é uma grande aliada na digestão de volumosos de baixa qualidade, de forma a promover melhorias expressivas no aproveitamento e consumo dessas forragens. Isso ocorre devido à ótima resposta que as bactérias celulolíticas (degradadoras de fibras) tem em relação à amônia.
Desse modo, o uso da ureia nas dietas de ruminantes, seja em rações, proteicos ou até mesmo no sal mineral no período seco, é altamente benéfico, proporcionando ganhos econômicos significativos.

COMO ELA É APROVEITADA PELO RUMINANTE?

O aproveitamento da ureia se dá a princípio, pela capacidade dos microrganismos do rúmen de transformar o NNP da dieta, em proteína passível de ser utilizada pelo animal. Assim que ingerida, a ureia é rapidamente hidrolisada em amônia e CO2 pela ação enzimática da urease microbiana (MAHADEVAN; SAUER; ERFLE, 1976). A associação dessa amônia com à energia proveniente da fermentação dos carboidratos, leva à síntese de proteína microbiana, que nada mais é do que o próprio conteúdo proteico dos microrganismos. Logo em seguida, esses microrganismos passam pelo rúmen e sua proteína é quebrada em aminoácidos que são absorvidos pelo intestino e usados no metabolismo animal.

Além disso, o metabolismo animal também produz a ureia endógena, sintetizada pelo fígado. Nesse processo, tem-se que a amônia proveniente da degradação de compostos nitrogenados no rúmen é absorvida pelo seu epitélio e chega no fígado pela veia porta. Neste órgão, a amônia é convertida em ureia novamente, e então, o fígado ira determinar se ela retornará ao rúmen ou será excretada pela urina.
Este processo é conhecido como Ciclo da Ureia, conforme pode ser visto no esquema a seguir.

Figura 1: Esquema simplificado do Ciclo da Ureia em ruminantes.
Fonte: Adaptado de Teixeira (1992) e Santos (2006).

QUAL O LIMITE DE CONSUMO DIÁRIO POR BOVINOS?

Para animais adaptados, a ureia tem boa indicação de uso em até no máximo 40 g/100 kg de Peso Vivo, sendo que, é comumente incluída em doses próximas a 1% da matéria seca ingerida pelo bovino na fase de terminação (FARIAS, 2014). Por ser um alimento que interage diretamente com a microbiota ruminal, é fundamental realizar uma adaptação antes de seu uso pleno, de forma que a sua inclusão é aumentada gradativamente. Segue abaixo um exemplo com cálculo da dose máxima de ureia.
COMO OCORRE A INTOXICAÇÃO?

O consumo em excesso de ureia e baixo em carboidratos fermentáveis corrobora para um acúmulo de amônia no interior do rúmen, em decorrência de sua maior velocidade de degradação em relação a síntese proteica microbiana. Esse excedente de amônia, eleva o pH do compartimento favorecendo sua absorção pelas paredes do rúmen acima da capacidade de processamento hepático, ocorrendo a intoxicação do animal, uma vez que a amônia possui alta disposição para migrar para o interior das células, em especial do sistema nervoso (DAVIDOVICH et al., 1977).

Geralmente, os sintomas de intoxicação começam a aparecer em menos de uma hora após a ingestão excessiva de ureia. Dentre eles, os mais frequentes são: a salivação abundante, os tremores e os espasmos musculares, sendo que a inquietação, a surdez, a micção e a defecação constante, a respiração ofegante, a falta de coordenação motora, o enrijecimento das pernas e o colapso respiratório. Em alguns casos, pode ser seguido de morte.
O QUE FAZER EM CASOS DE INTOXICAÇÃO?

O princípio do tratamento dos casos de intoxicação por ureia é a redução do pH ruminal para transformar a amônia em amônio, a fim de reduzir a concentração e absorção do primeiro composto (BARTLEY et al., 1976; DAVIS; ROBERTS, 1959; WORD et al., 1969). Para isso, utiliza-se o fornecimento, via oral com sonda esofágica, de 4 a 6 litros ácido acético ou vinagre a 5%. Dependendo dos sintomas apresentados, esse procedimento deve ser refeito 6 horas após a primeira administração. Além do uso desse produto, deve-se fornecer de 20 a 40 litros de água fria ou gelada para que haja diminuição da absorção ruminal de amônia.
COMO PREVENIR A INTOXICAÇÃO?

O ponto chave na prevenção desta intoxicação é o manejo alimentar. A meta de inclusão é variável de acordo com os alimentos disponíveis na formulação. Como já mencionado, a dose máxima recomendada para bovinos é de até 40 g/100 kg de Peso Vivo. Recomenda-se também, para animais não adaptados à ureia, o seu acréscimo de forma progressiva, principalmente para animais famintos e/ou que anteriormente recebiam dietas com baixo teor de proteína. Em relação a suplementos que contenham ureia, deve se evitar ao máximo o acúmulo de água nos cochos, tendo em vista que, a ureia em contato com a água se dissolve em amônia e se concentra na fase líquida, o que pode potencializar o risco de um consumo exacerbado pelos animais. Além disso, quando houver interrompimento por mais de 15 dias no fornecimento desse alimento, é necessário a adoção de um novo protocolo de adaptação. Por fim, vale ressaltar a importância de uma dieta bem formulada, onde se tenha um equilíbrio entre carboidratos e proteínas, para que o potencial de ganho em eficiência com este produto seja maximizado e os riscos de intoxicação minimizados.

REFERÊNCIAS:


COSTA, Thais Maria da Silva. Utilização da ureia na alimentação de bovinos e equinos. 2019. 41 f. Monografia (Graduação em Zootecnia) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2019.

E SILVA, Jordanna de Almeida. Intoxicação por ureia e nitrato em ruminantes: Revisão de literatura. Seminário aplicado (Programa de pós graduação em ciência animal) – Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinária e Zootecnia – EVZ. Goiânia, p. 17. 2012.

Farias, C.S. Intoxicação com uréia em ruminantes. Seminário apresentado na disciplina Transtornos Metabólicos dos Animais Domésticos, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014. 8 p.

Kitamura. S.; OrtolaniE. L.; AntonelliA. C. Intoxicação por amônia em bovinos causada pela ingestão de uréia dietética: conceitos básicos e novas descobertas. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 5, n. 3, p. 293-299, 1 dez. 2002.

MEDEIROS, Sérgio Raposo de; MARINO, Carolina Tobias. Proteínas na nutrição de bovinos de corte. In: MEDEIROS, Sérgio Raposo de; GOMES, Rodrigo da Costa; BUNGENSTAB, Davi José. Nutrição de bovinos de corte: fundamentos e aplicações. Brasília: Embrapa, 2015. p. 29-43.

RIBEIRA PEREIRA, L. G.; GUIMARÃES, R. J.; TOMICH, T. R. Utilização da ureia na alimentação de ruminantes no semi-árido. Lavras: Embrapa semiárido, 2008. 3 p.
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