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O que saber para não errar no consórcio milho x capim

INTRODUÇÃO

Os benefícios da integração-lavoura-pecuária é assunto recorrente nas bancadas de cooperativas e revendas agropecuárias. Nesse sentido, um dos modelos de ILP mais comentado é o consórcio Milho x Capim que após a colheita do milho pode possibilitar o uso do capim para corte, pastejo ou como palhada para o plantio direto. A introdução de uma espécie forrageira junto à cultura do milho, quando bem feita traz muitas melhorias ao solo, sendo as principais:
-  Aumento da Matéria Orgânica do solo
-  Maior reciclagem de nutrientes, em especial, o potássio
-  Menor incidência de plantas daninhas
-  Diminuição de doenças fúngicas de solo

Apesar dos benefícios expostos acima, o consórcio mesmo quando bem implantado raramente leva à um aumento de produtividade significativo na cultura do milho. O incremento é sempre evidenciado no cultivo posterior, que se aproveita das melhorias supracitadas.

Contudo, consorciar duas gramíneas  de alta exigência hídrica e responsivas a manejos, não é tarefa fácil, acontecendo com frequência casos de insucesso, onde a produtividade do milho é penalizada pela competição desenfreada com o capim, refletindo inclusive em problemas na colheita (vide Figura a seguir). O contrário também é comum acontecer, no qual o desenvolvimento da forrageira se torna tão ruim que inviabiliza o seu uso como forragem.

Figura 1: Massa excedente de capim no momento da colheita do milho, atrapalhando a operação.
1.  ESTABELECIMENTO E SEMEADURA DO CAPIM:

A semeadura da forrageira pode ser feita de maneira antecipada, simultânea ou posterior ao milho, a depender do maquinário disponível na propriedade. As interações entre época de semeadura (em relação ao milho) e profundidade de plantio serão determinantes no arranque inicial do capim, sendo que, quanto mais precoce for o estabelecimento do capim em relação ao milho, maiores serão os riscos de uma competição prejudicial à produção de grãos. Tomando como base a B. ruziziensis, o gráfico abaixo nos indica um melhor estabelecimento da espécie quando semeada numa profundidade entre 3-6 cm.

Figura 2: Emergência de B. ruziziensis em diferentes profundidades de semeadura aos 7 e 21 dias após plantio.
Fonte: Adaptado de Zanon et al. (2012).


A semeadura incorporada da forrageira é feita geralmente, no momento do plantio por meio de algumas adaptações na plantadeira de grãos, sendo as principais:

· Terceira caixa: É inserido no chassi da própria plantadeira uma caixa adicional para semeadura de grãos miúdos. A semente é distribuída na superfície a frente dos “carrinhos” e incorporada na própria linha de plantio. Habitualmente é cobrado um valor adicional para aquisição desse opcional.

· Caixa de adubo: A semente é misturada com o adubo e ambos são distribuídos na mesma profundidade que, em média, deve se situar em torno de 10cm. Deve se tomar cuidado tanto com o tempo em que a mistura permanece em contato, quanto com o tipo de adubo, não sendo indicado a mistura com fertilizantes de alta salinidade. Devido a diferença de densidade entre esses insumos deve se aferir constantemente a homogeneização da mistura, a fim de evitar uma distribuição desuniforme de sementes e adubos.

· Discos de sementes miúdas: Nos “carrinhos” que serão destinados a forrageira, substitui-se o disco do milho por um disco com diâmetro de furos adequado à semente do capim. Como ponto positivo, esse sistema permite que se ajuste de maneira separada a profundidade de plantio da forragem, porém, requer o uso de sementes de alta pureza que tenham boa compatibilidade com o disco disponível, para evitar erros na população de plantas.

Para a semeadura a lanço, atualmente, além dos tradicionais equipamentos de distribuição de sementes, temos à disposição semeadoras elétricas que podem ser instaladas em diversas posições do trator. Por ser um equipamento leve, prático e de fácil instalação, ele vem ganhando cada vez mais espaço nas fazendas adeptas da ILP.

Quando feita de modo anterior ou simultâneo ao plantio, parte das sementes são incorporadas pela plantadeira e a restante incorporada pela ação das chuvas. Já quando feita de modo posterior ao plantio, a incorporação é 100% dependente da chuva, o que pode tornar a germinação do capim mais ou menos desuniforme.

É obrigatório se ter em mente que, cada método de implantação irá proporcionar vantagens e/ou desvantagens ao estabelecimento do capim, que dependendo das condições climáticas irão proporcionar uma competição mais ou menos agressiva ao milho. O segredo é saber dosar os riscos de cada um dos métodos, aplicando estratégias de manejo adequadas para cada situação.

2. POPULAÇÃO DE PLANTAS

Já é esperado que num consórcio de plantas, a população de cada uma delas seja um fator determinante. Geralmente, no Brasil, o milho tem sua população oscilando em torno de 60.000 plantas/ha, com variações na ordem de 10-15 mil, a mais ou a menos, dependendo do material genético, altitude e época de plantio. Como ele é a cultura preponderante economicamente, a sua recomendação de população no consórcio deve ser a mesma indicada no cultivo solteiro.

Já a forrageira, além de não ser a cultura de maior importância econômica possui características morfológicas que permitem ajustes na sua população para que se alcance boa produtividade de grãos e de forragem. Tomando como exemplo a B. ruziziensis há evidências de que a sua população deve estar situada numa faixa de 4 a 10 plantas/m² (40 a 100.000 plantas/ha). Em casos de menor densidade populacional, a produção de forragem será comprometida e no outro extremo, havera grandes chances de prejuízos na produtividade de grãos.

A partir da população de capim definida, a taxa de semeadura vai variar de acordo com a qualidade dessa semente, expressa pelo seu valor cultural (VC) e pelo peso de mil sementes (PMS). 

3. CONTROLE DE INVASORAS E SUPRESSÃO DA FORRAGEIRA

Tratando-se de um consórcio de duas gramíneas que buscam altas produtividades é imprescindível que a implantação dessa lavoura seja feita no limpo. No caso de plantio direto, a dessecação é uma etapa muito importante e que deve ser bem executada a fim de evitar prejuízos às duas culturas.

Em algumas situações onde o capim toma vantagem competitiva em relação ao milho é necessário a supressão da forrageira para evitar prejuízos à produção de grãos.

Nessas situações, deve-se atentar com a seletividade do herbicida à espécie forrageira e ao seu estágio de desenvolvimento. De modo geral, a supressão química do capim só deve ser iniciada após a emissão de pelo menos dois perfilhos. As braquiárias do gênero brizantha são mais tolerantes aos herbicidas que a ruziziensis. O uso de produtos de amplo aspectro (glifosato e glufosinato de amônio) comum em milhos geneticamente modificados (transgênicos) afetam drasticamente a produção do capim. A atrazina em doses de bula, combinada com óleo mineral pode provocar o mesmo efeito.

Atualmente, os principais ingredientes ativos estudados e recomendados para o consórcio são o nicosulfuron e a mesotrione em subdoses e época de aplicação adequada à cultura do milho.

4. FERTILIDADE DO SOLO E ADUBAÇÃO

O Brasil é conhecido por apresentar solos que, no geral, possuem baixo pH, excesso de alumínio e baixa concentração de nutrientes. A braquiária devido a sua rusticidade e maior tolerância à acidez, se desenvolveu muito bem nessas áreas, sendo consorciada inicialmente com arroz de sequeiro, que compartilha das mesmas características adaptativas. Para o consórcio com milho, cultura nutricionalmente mais exigente, a correção de solo é etapa fundamental, sendo que, em linhas gerais não é indicada a sua implantação em áreas desfavoráveis ao seu cultivo.

Apesar de se tratar de gramíneas com alta capacidade de extração de nutrientes, em ambientes quimicamente corrigidos, não há indicação de aumento da dose de fertilizantes nos consórcios em relação ao milho solteiro. Rodrigo et al (2017), ao avaliar a resposta do milho à adubação nitrogenada em sistema de consórcio e solteiro, notou que a partir de 100 kg/ha de N, não houve diferença estatística na produção de grãos entre as formas de cultivo. O autor ainda acrescenta que a braquiária consorciada absorveu no máximo 5% do adubo nitrogenado aplicado.

Figura 3: Produtividade do milho solteiro (linha azul) e milho consorciado (linha verde) em função da dose de N.
Fonte: Almeida et al (2017).

 5. ESCOLHA DO HÍBRIDO
 
A escolha do híbrido de milho é fundamental para o sucesso do consórcio. Parâmetros como adaptabilidade, produção de grãos, matéria seca e altura, por exemplo, ajudam a selecionar o material mais apropriado. Preferencialmente, deve se optar por híbridos de alto teto produtivo, porte alto, exigentes em fertilidade e com adaptação climática regional, para que, associando as práticas de manejo adequadas, ele responda em crescimento e com vantagem competitiva. Também é desejável que o material tenha maior altura de inserção da espiga, a fim de se evitar problemas eventuais na colheita. 
A Tabela a seguir é um resultado de pesquisa obtido pela Fundação MS, que avaliou o desempenho de híbridos de portes diferentes e com diferentes manejos.

Tabela 1: Produtividade do milho safrinha (sacas/ha) em função do porte do híbrido, forrageira consorciada e controle químico.
Fonte: Adaptado de Barros e Broch (2012).

CONCLUSÕES

- Existem diversos métodos de implantação da forrageira no consórcio. Entender as vantagens e desvantagens de cada um deles é fundamental para se definir as estratégias de controle do risco;

- O ajuste populacional da forrageira é fundamental no consórcio, não devendo ultrapassar a marca de 10 plantas/m²;

- O uso de herbicidas que façam a supressão da forrageira sem matá-la é necessário em muitas situações. Deve se atentar sempre À interação entre espécie forrageira, ingrediente ativo, dose e época de aplicação;

- O consórcio só deve ser implantado em áreas favoráveis ao cultivo do milho e, de preferência, com bom histórico produtivo;

- O milho é a cultura principal no consórcio e é também a mais exigente em fertilidade, clima e tratos culturais. Portanto, o posicionamento correto do híbrido é fundamental, a fim de evitar situações desfavoráveis ao seu desenvolvimento, em que o capim tome vantagem competitiva e prejudique a produção de grãos;

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Rodrigo Estevam Munhoz de. Importância da adubação nitrogenada no consórcio de milho com braquiária no oeste baiano. Palmas: Embrapa Pesca e Aquicultura, 2017.

AIDAR, H.; KLUTHCOUSKI, J. Evolução das atividades lavoureira e pecuária nos Cerrados. In: KLUTHCOUSKI, J.; STONE, L.F.; AIDAR, H. (Ed.). Integração Lavoura-Pecuária. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. part.1, cap.1, p.23-58.

 BARROS, Ricardo; BROCH, Dirceu Luís. Tecnologia e Produção - Milho Safrinha e Culturas de Inverno 2012: Manejo de Milho Safrinha em Consórcio com Forrageiras no Mato Grosso do Sul. 2012. Elaborado por Fundação MS. Disponível em: https://www.fundacaoms.org.br/base/www/fundacaoms.org.br/media/attachments/161/161/newarchive-161.pdf. Acesso em: 25 out. 2021

CECCON, Gessí (ed.). Consórcio Milho-Braquiária. Brasília, Df: Embrapa, 2013.180p.Disponívelem:https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/982597/1/LVCONSORCIOMB.pdf. Acesso em: 17 set. 2021.

KLUTHCOUSKI, J. et al. Sistema Santa Fé - Tecnologia Embrapa: Integração LavouraPecuária pelo consórcio de culturas anuais com forrageiras, em área de lavoura, nos sistemas direto e convencional. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2000. 28p. (Embrapa Arroz e Feijão. Circular Técnica, 38).

ZANON, E. de M.; LEITE, L. F.; TEFEN, J. R.; LIMA, V.; CECCON, G. Germinação de sementes de forrageiras perenes em baixas temperaturas e diferentes profundidades. In: JORNADA DE INICIAÇÃO À PESQUISA DA EMBRAPA, 2012, Dourados. Resumos... Brasília, DF: Embrapa, 2012. 1 CD-ROM.

 
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